Quem sou eu

sábado, 12 de julho de 2008





Os trabalhos de preservação do Parque Nacional e dos sítios arqueológicos consiste em um esforço conjunto entre a FUMDHAM, o IBAMA e o IPHAN.
Os recursos captados, muitas vezes insuficientes, são administrados para as prioridades que envolvem a gestão de um Parque Nacional, como o acesso de turistas e trabalhadores, a proteção da fauna e da flora, e a conservação dos sítios.
Foram construídas XX guaritas, sendo XX de acesso turístico e XX de serviço. Todas elas estão em constante comunicação via rádio, com a sede da fundação e com o IBAMA. As guaritas são ocupadas por mulheres, que fazem o monitoramento das entradas e saídas nas estradas do Parque.

A vigilância dos limites do Parque é feita por uma equipe de guardas do IBAMA, que percorrem as estradas e trilhas em busca de caçadores e pessoas não autorizadas. Uma característica do Parque é a pressão exercida pelos povoados que se encontram no seu entorno. Regiões pobres, que muitas vezes promovem o desmatamento, queimadas, criação de gado solto e a caça e tráfico de animais silvestres.
Durante o período da seca é necessária a criação de uma equipe de prevenção e combate a possíveis focos de incêndio no Parque e regiões do entorno .
Para o manejo dos recursos hídricos, cisternas de alta capacidade foram construídas em locais estratégicos para captar água no período das chuvas e abastecer bebedouros e "caldeirões" naturais na época da seca. As formações rochosas contribuiram para a canalização da água que corre em grande volume sobre os paredões. Essa medida foi tomada para minimizar os efeitos da desertificação e da destruição de parte do corredor ecológico entre o P.N. Serra da Capivara e o P.N. Serra das Confusões sobre a fauna da região.

Trabalho de conservação dos sítios arqueológicos

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Os sítios com pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara, como toda obra de arte exposta ao ar livre, encontram-se em permanente processo de degradação.
Em alguns sítios, determinados fatores naturais ou antrópicos agem, acelerando a degradação da rocha ou das pinturas. É preciso, então, encontrar meios de neutralizar a ação destes agentes destruidores para que se possa prolongar por muito tempo a vida destes insubstituíveis documentos pré-históricos.
Os pigmentos das pinturas são compostos naturais similares as rochas, por isso persistem até hoje. Só que estes compostos também passam por processos de degradação natural provocados, sobretudo, pela ação da água que, em geral, quando passa, arrasta parte dessas substâncias.
Alguns insetos (vespas, marimbondos, cupins), microorganismos e vegetais também provocam a destruição de sítios com pinturas. Os insetos constroem ninhos muitas vezes sobre as pinturas. Esses ninhos são feitos com argila, restos vegetais e saliva animal. Com o passar do tempo esses ninhos petrificam e recobrem definitivamente paneis com pinturas.
O problema mais intenso e mais grave de deteriorização atinge o próprio suporte rochoso. A rocha é de tipo sedimentar formada de um arenito muito poroso e cimentada com uma matriz feldspática- quartzítica. Ela desagrega-se muito facilmente com a ação da água, vento e variações bruscas de temperatura, típicas de clima semi-árido : mm sol escaldante ao meio-dia com temperaturas de até 45 graus e noites frescas com temperaturas variando entre 15-20 graus.
O fogo também provoca o superaquecimento da rocha e, como conseqüência, o aparecimento de rachaduras que ocasionam futuras quedas de placas.
As plantas, quando tocam a parede rochosa, também são prejudiciais à preservação dos sítios. Elas podem destruir a rocha através de substâncias químicas por elas produzidas como certas resinas ou, então, por reterem umidade e assim favorecerem o desenvolvimento de microorganismos (fungos, algas, bactérias, líquens). Além disso o desenvolvimento das raizes no interior da rocha provoca rachaduras fazendo cair placas que apresentam pinturas.
A vegetação baixa, de tipo capoeira, que se encontra em geral na entrada dos abrigos, é a maior responsável pelo alastramento de incêndios nos sítios. E, sobretudo, por aproximar o fogo das áreas com pintura. A ação do fogo além de provocar um superaquecimento da rocha, também recobre a superfície pintada com fumaça.
O trabalho de proteção dos sítios de pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara é feito em três etapas diferentes. O primeiro consta do levantamento e da identificação dos problemas de conservação presentes em cada sítio. Este trabalho é feito com a colaboração de diferentes especialistas (químicos, geólogos, microbiólogos, biólogos, botânicos). Cada sítio deve ser estudado separadamente pois os tipos de problemas são muito específicos e próprios dos locais considerados. A segunda etapa é o trabalho de intervenção. Isto significa a realização de ações no sentido de neutralizar os agentes destruidores. As principais atividades desenvolvidas são a limpeza dos painéis pintados com a retirada dos diferentes depósitos de alteração que encontram-se sobre os mesmos. Este trabalho só pode ser feito por um especialista treinado para tanto pois é preciso tomar muito cuidado para não danificar nem as pinturas nem a rocha. No Parque Nacional Serra da Capivara já foram oferecidos dois cursos para formar agentes de conservação, e hoje o parque já conta com uma equipe que trabalha sistematicamente na preservação das pinturas. A terceira etapa do trabalho de conservação é a pesquisa sistemática. Todas as ações realizadas são verificadas periódicamente para se avaliar os resultados obtidos. Estudos são feitos para complementar diagnósticos ou para solucionar novos problemas. Esses estudos são feitos por um especialista em conservação e deve contar com a colaboração de diferentes áreas (química, física, biologia, geologia).
Este trabalho de acompanhamento contínuo do avanço do estado de deterioração do Patrimônio Cultural do Parque Nacional Serra da Capivara deveria ser praticado idealmente para a totalidade dos sítios, todavia, do ponto de vista prático isso se torna, atualmente, inviável, em decorrência do grande número de sítios e dos altos custos. Portanto é feito uma seleção priorizando os que correm maior perigo.
A situação dos sítios de arte rupestre do Parque Nacional Serra da Capivara seria bem diferente se não houvesse uma destruição acelerada do patrimônio natural. A preservação dos sítios com pinturas depende diretamente da preservação da fauna e flora da região. A maioria dos agentes causadores da destruição dos sítios é conseqüência de um desequílibrio ecológico com quebra da cadeia alimentar. O caso dos cupins ilustra bem esta situação. A caça desordenada de animais (tamanduá, tatu) que se alimentam de cupim fêz com que houvesse um aumento considerável destes, que hoje constroem suas galerias sobre pinturas. Os desmatamentos e queimadas provocaram o desaparecimento de espécies nativas que protegiam a rocha da incidência solar e hoje em seu lugar brotam apenas as plantas baixas, tipo capoeira.
É preciso que nos conscientizemos sobre a importância de presevar esse imenso patrimônio cultural, testemunho de grupos que habitaram o Piauí antes da chegada do Europeu e sobre os quais não dispomos de documentos escritos precisando conhecer muito ainda para entender melhor o passado, analisar o presente e buscar um futuro melhor.

patrimonio cultural



Patrimônio cultural
As pinturas rupestres são a manifestação mais abundante, conspícua e espetacular deixada pelas populações pré-históricas que viveram na área do Parque Nacional, desde épocas muito recuadas.
Nos primeiros anos de pesquisa fizeram-se sondagens e escavações para datar essas pinturas e situá-las em um contexto sócio-cultural preciso. Esses trabalhos permitiram a descoberta de sítios que apresentavam vestígios de presença humana excepcionalmente antigos, o que incitou os pesquisadores a acelerar e a ampliar as escavações procurando obter uma massa de dados coerentes que fundamentassem esta descoberta que revolucionava as teorias sobre o povoamento das Américas.
Entre os anexos encontra-se a lista dos resultados das datações obtidas pela técnica da análise do Carbono 14 para esta área. Essa lista mostra que o Homem já vivia na área do Parque Nacional desde há, pelo menos, 50.000 anos atrás e que sua presença foi contínua até a chegada dos colonizadores brancos.
Os povos mais antigos eram caçadores-coletores, isto é, viviam da caça e da coleta de produtos animais e vegetais, como ovos, mel, frutos, raizes, tubérculos, etc.
Em três sítios (veja encarte), que são visitados pelo público, encontramos vestígios de presença humana muito antiga: a Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada, a Toca do Sítio do Meio e a Toca do Caldeirão do Rodrigues I.
Os três sítios que apresentaram as mais antigas datações obtidas na área do Parque Nacional são abrigos-sob-rocha. Um abrigo-sob-rocha forma-se pela ação da erosão que agindo na base dos paredões rochosos vai desagregando a parte baixa das paredes fazendo com que se forme, no alto, uma saliência. Esta funciona como um teto que protege do sol e da chuva o solo que fica sob o mesmo. Com o progresso da erosão, a saliência torna-se cada vez mais pronunciada até que, sob a ação da gravidade, fratura-se e desmorona.
Os homens utilizaram a parte protegida dos abrigos como casa, acampamento, local de enterramentos e suporte para a representação gráfica da sua tradição oral.
Sobre os vestígios deixados por um grupo humano, a natureza depositava sedimentos que os cobriam. Novos grupos, novos vestígios, nova sedimentação. A repetição desse ciclo durante milênios forma as camadas arqueológicas, nas quais os arqueólogos encontram todos os elementos que permitem a reconstituição da vida dos povos pré-históricos.
Na linguagem regional os abrigos são chamados tocas.
A Toca do Boqueirão da Pedra Furada encontra-se a 19 metros acima do nível do vale, protegida por grandes blocos originários do desmoronamento do paredão rochoso. Sua formação deve-se, como em todos os sítios da região, à erosão que cava a base da parede, formando uma projeção que serve de teto.
O processo de formação das camadas arqueológicas deste sítio durou, no mínimo, 60.000 anos. As escavações, iniciadas em 1978, duraram 10 anos e permitiram a descoberta dos mais antigos vestígios, até hoje conhecidos, da presença humana nas Américas: fogueiras estruturadas e uma grande quantidade de artefatos de pedra lascada.
Blocos de parede com pinturas, caídos sobre as camadas arqueológicas, permitiram a datação das mesmas. Os vestígios mais antigos são duas manchas vermelhas datadas de 23.000 anos, dois segmentos paralelos de reta datam de 17.000 anos, enquanto que pinturas representando temas semelhantes aos que subsistem hoje nas paredes, foram pintadas entre 12.000 e 6.000 anos atrás.
Nesse sítio foi possível reconstruir a história das ocupações humanas desde há cerca de 60.000 anos até 6.000 anos atrás.
O Sítio do Meio encontra-se a apenas 3 m. acima do nivel do vale e foi cavado por um caudaloso rio que nascia no boqueirão que passa frente ao abrigo. O rio cavou a base da parede e, quando a projeção do teto ficou muito grande, sem sustentação, houve um primeiro desmoronamento, que cobriu a praia do rio. Esse episódio se deu há 20.000 anos. Os homens aproveitaram essa parede e se instalaram
atrás dela, protegidos dos ataques dos animais. Depois do primeiro houve mais 3 grandes desmoronamentos, sendo que o último aconteceu há cerca de 8.000 anos.
Este sítio é importante porque nele encontramos: fragmentos da cerâmica mais antiga das Américas, datada de 8.960 anos, o primeiro artefato americano de pedra polida, uma machadinha datada de 9.200 anos.
Durante muitos anos, até os anos 60, foi utilizado como casa de farinha. Quando iniciamos a escavação encontramos os restos de um forno de farinha, que foi reconstruído segundo a tradição local. A escavação deste sítio ainda não foi terminada.
A Toca do Caldeirão dos Rodrigues é um abrigo formado em um vale alto, cerca de 80 m. acima do vale do Boqueirão da Pedra Furada. Suas pinturas, escondidas atrás de um imenso bloco caído, retratam cerca de 12.000 anos de evolução estilística e cultural. As escavações, ainda não terminadas, já permitiram encontrar vestígios da presença humana de 18.000 anos.
Na Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada as escavações, iniciadas em 1978, demonstraram que o abrigo foi utilizado pelo homem pré-histórico, pelo menos desde há cerca de 50.000 anos. Os primeiros acampamentos, ocuparam parte da base rochosa próximo à parede do fundo. O local era então protegido do vale por um amontoado de blocos caídos. A medida em que o tempo passava a erosão fazia com que sedimentos desprendidos da parede, cobrissem os vestígios humanos que aí eram depositados de maneira intermitente. Deste modo, formaram-se camadas que refletem 15 fases de ocupação, as quais podem ser agrupadas em 3 fases culturais: uma primeira fase, Pedra Furada, que compreende os grupos mais antigos; a fase Serra Talhada, que corresponde às populações que freqüentaram o abrigo, desde há 12.000 anos B.P. até cerca de -7.000/-6.000 anos e finalmente uma fase que parece corresponder à chegada de um novo grupo na região, a fase Agreste.
Durante a fase cultural mais antiga, Pedra Furada, foram construídos grandes fogões circulares utilizando blocos caídos, nos quais se notam ainda leves manchas de pigmento vermelho. Carvões recolhidos em fogões descobertos na mesma camada em que foram encontrados esses blocos puderam ser datados; assim sabemos que, por volta de 23.000 anos atrás, essas populações já aplicavam pigmentos sobre as paredes do abrigo. Um bloco, encontrado ao lado de um fogão datado de 17.000 anos, mostrava duas retas paralelas, sendo esta a primeira manifestação segura da prática da pintura rupestre na área.
As sondagens praticadas nos dois outros sítios citados, Toca do Sítio do Meio e Toca do Caldeirão dos Rodrigues I, completam e confirmam esta seqüência crono-cultural.
Portanto, as primeiras populações que haviam chegado à região por volta de 50.000 anos atrás, colonizaram-na, adaptaram sua economia e vida social às condições ambientais locais e conseguiram explorar, com sucesso, todos os ecossistemas da região do Parque Nacional. A partir de 12.000-10.000 anos os grupos humanos encontrados já mostram que há diversas culturas diferentes dividindo o espaço e que a as populações são bem mais numerosas que no início.
As escavações na Toca do Sítio do Meio permitiram conhecer importantes detalhes sobre a evolução climática na região e sobre a tecnologia dos povos que aí acamparam. Nesse sítio foram descobertos pedaços de cerâmica, datados de 8.960 anos, o que faz delas as mais antigas das Américas. Nele também foi descoberta a primeira peça de pedra polida da Américas, uma machadinha datada de 9.200 anos.
Um dos mais importantes sítios para o estudo dessas populações foi a Toca do Baixão do Perna I, escavada durante os anos de 1987 a 1990. Uma sucessão de 6 níveis, sendo o mais antigo datado de 10.500 anos antes do presente, mostrou uma ocupação humana contínua, tendo o sítio servido de acampamento de maneira semi-permanente, desde pelo menos há cerca de 12.000 anos até 3.500 anos atrás.
Uma grande quantidade de fogões caracterizava todos esses níveis. No solo, junto a eles, encontramos grande quantidade de pedra lascada e de vestígios da caça que aí foi assada: tatus, preás, mocós, aves, veados, roedores diversos. Restos de frutos e de folhas demonstravam a utilização de recursos vegetais; um fragmento de estipe de carnaúba mostrou que o grau de umidade deveria ter sido mais importante, pois atualmente não existem carnaúbas nesse vale; outra possível explicação seria que os homens pré-históricos a trouxeram de outra área.
Os instrumentos de pedra lascada encontrados, apresentam uma certa variação, demonstrando que os grupos ocupantes do abrigo exerciam uma atividade diversificada no interior do mesmo.
Lascas retocadas, raspadores de vários tipos, lesmas, facas, pontas, furadores, além de restos de lascamento (percutores, núcleos, lascas e fragmentos) constituem o essencial da coleção.
Grande quantidade de pigmento vermelho e restos de parede caída portando figuras pintadas demonstram a prática constante de atividades picturais.
Esses povos mais recentes utilizavam não somente as rochas locais como matéria-prima, mas iam também procurá-la em outras áreas. Assim começaram a utilizar o sílex e a calcedônia, matérias-primas extremamente favoráveis ao trabalho do lascamento. A partir de 9.000 anos o sílex torna-se a matéria-prima preferencial e é utilizado com uma preocupação evidente de econômia do material.
Sondagens e coletas de superfície feitas em mais de vinte sítios demonstram a expansão notável desses povos, a riqueza e o equilíbrio dessas sociedades que dominavam, toda a área do Parque Nacional.
A base econômica continuava a ser a caça, a coleta e a pesca; as pinturas rupestres retratam com detalhes a evolução sócio-cultural desses grupos durante pelo menos 6.000 anos, o que constitui um dos mais longos e importantes arquivos sobre a Humanidade disponível, hoje, no mundo.
Houve, a partir de 10.000 anos, uma aridificação marcada pela modificação de uma grande parte dos recursos naturais. Isto tornou os ecossistemas mais frágeis e com pouca capacidade para suportar uma pressão antrópica intensa.
Por volta de -6.000 anos desaparecem todos os vestígios dos hábeis artesãos pré-históricos de tradição Nordeste. Em seu lugar, dominam agora vários grupos acantonados dentro de limites definidos: nas serras, nas antigas posses dos povos Nordeste, dominam os povos de tradição Agreste; na planície encontramos manifestações de um povo ligado a uma tradição que tem uma vasta distribuição geográfica em todo o Nordeste: a tradição Itacoatiaras de Leste; este último parece ter aí se instalado desde há mais tempo, talvez cerca de 8.000 anos .
Essas sociedades pré-históricas viviam em equilíbrio com o meio ambiente, que utilizavam de diferentes maneiras, sem jamais esgotá-lo. O modelo econômico que podemos deduzir dos estudos feitos na região do Parque Nacional é o seguinte:
- no início, ocupando um espaço vazio, sem concorrentes, os primeiros grupos praticaram uma exploração concentrada em certos pontos, pois a rentabilidade era boa e não exigia grandes esforços. Mesmo a matéria-prima para as ferramentas de pedra era sempre a que se encontrava o mais perto possível do sítio;
-a partir de 10.000 atrás, pressionados pelas mudanças climáticas e pela provável diminuição do potencial dos ecossistemas, resultado do desaparecimento da megafauna, houve uma adaptação que se manifesta por uma utilização variada, alternativa, de todas as possibilidades oferecidas pelo meio natural. Há até uma seleção da matéria-prima, que passa a ser coletada, às vezes, longe dos acampamentos ou aldeias, buscando uma maior qualidade que resulta em uma eficácia maior no controle da tecnologia da fabricação das peças;
- a partir de 3.500-3.000 anos atrás,encontramos os primeiros vestígios deixados por povos agricultores, mas esta prática pode ter existido anteriormente o que deverá ser verificado por novas pesquisas;
- entre 3.000 e 1.600 anos, encontramos vestígios de povos que viviam em aldeias redondas que comprendiam entre 10 e 11 casas elípticas, dispostas em volta da praça central. Estas aldeias ocupavam os vales largos da planície da depressão periférica, ou o alto da chapada, nas formações sedimentares. Além de restos de potes de cerâmica, descobrimos mãos de pilão, discos polidos perfurados, machados lascados e semi-polidos, machados polidos e tembetás de jadeíte que completam o complexo técnico desses povos. Tinham costumes funerários muito elaborados e praticavam sepultamentos secundários em urnas ou em covas na terra. Apesar da diversidade dessas sepulturas um fato é constante: a cabeça recebia um tratamento diferenciado: era separada do resto do corpo e enterrada sobre o arranjo feito com os outros ossos, algumas vezes 20 ou 30 cm mais alto que o montículo de ossos longos. A cabeça era sempre coberta, seja por uma cabaça cortada na metade, seja por um recipiente de cerâmica.
As plantas cultivadas eram o milho, o feijão, a cabaça e o amendoim. A agricultura nesta área requer uma adaptação técnica e social para poder fazer face às épocas de seca. Nossa hipótese de trabalho é que esses grupos, apesar de plantarem, utilizavam, com a mesma desenvoltura que os caçadores-coletores, os recursos naturais e que, nas épocas de grande seca, se deslocavam para as regiões mais próximas aos grandes rios perenes, por exemplo, o São Francisco, que não fica muito distante da área. Isto implica naturalmente uma organização social na qual os deslocamentos temporários constituíam uma constante no modus vivendi.
As pesquisas sobre os grupos de povos ceramistas da região foram numerosas nestes últimos anos o que possibilitou uma primeira reconstituição da vida dessas sociedades.
A cerâmica pré-histórica aparece em vários sítios arqueológicos que podem ser abrigos ou aldeias áreas a céu aberto.
Como vimos acima os primeiros ceramistas viviam nesta região, no Holoceno, em condições ecológicas semelhantes às atuais, por volta de 8.900 anos antes do presente. Temos ainda registros da presença desses grupos até o período colonial quando foram exterminados e, os poucos que restaram, aculturados.
Os grupos ceramistas compartilhavam ambientes diferentes e se localizaram tanto na planície pré-cambriana, como na chapada. Viviam em aldeias, porém, os vestigios arqueológicos encontrados, permitem dizer que os abrigos também foram utilizados para diferentes atividades como acampamentos temporários, práticas rituais como os sepultamentos e, possivelmente, para deixarem as suas mensagens através das pinturas rupestres.
As aldeias eram grandes, localizadas em lugares estratégicos, próximas às fontes d’água. Esses mesmos lugares foram utilizados, posteriormente, pelo colonizador, não apenas como uma forma de dominação dos indígenas, mas, porque eram ideiais para a implantação das fazendas de gado e dos primeiros vilarejos ou povoados.
Através das informações etno-históricas e arqueológicas podemos dizer que havia uma grande densidade populacional nesta região, porém sobre a sua forma de subsistência temos poucos conhecimentos. As evidências sobre a agricultura são raras nos abrigos e, praticamente inexistentes nas aldeias.
No sítio Cana Brava registramos um período de ocupação de mais de 300 anos no mesmo local. Neste sítio encontramos fogueiras com restos de ossos animais, sementes e coquinhos queimados.
É possível formular a hipótese de que, por volta de 3.300 anos antes do presente, os ceramistas viviam em pequenos grupos e utilizavam vasilhames de tamanho pequeno com formas simples, porém com técnicas decorativas bastante aperfeiçoadas, de traços bem definidos e delicados, lascavam e poliam os seus instrumentos de pedra, e praticavam uma agricultura que parecia incipiente.
A partir de um certo período, talvez por volta de 2.000 anos antes do presente, ocorre um aumento populacional, com a chegada de novos grupos que dominam uma tecnologia bem diversificada. A cerâmica é caracterizada por diferentes formas e tamanhos de vasos, cachimbos de vários tipos, fusos e por uma riqueza decorativa onde aparece as técnicas do corrugado, ungulado, escovado, inciso e o pintado, em peças extremamente finas, bem polidas ou brunidas com tintas de cor vermelha em vários motivos decorativos ou, ainda, numa cerâmica mais espessa, pintada sobre um engobo branco com desenhos geométricos em vermelho e preto.
A indústria lítica também é rica e emprega técnicas diversificadas. Nas aldeias encontramos peças polidas e lascadas que foram utilizadas como raspadores, facas, mãos de pilão, batedores e moedores, machados (alguns do tipo semilunar), discos (alguns deles perfurados), tembetás e pingentes usados como adornos.
Existem peças, no entanto, como esses discos polidos, descobertos na aldeia da Queimada Nova, cuja função é desconhecida. As materias primas mais utilizadas por esses grupos foram o quartzo, quartzito, xisto, calcedônia, sílex e o granito.
Esses grupos ceramistas mostram diversificação nos hábitos funerários. Utilizavam técnicas de sepultamento em urnas funerárias, em fossas na terra ou em depressões rochosas, em enterramentos primários, isto é quando o corpo é definitivamente enterrado e secundários (quando o corpo é enterrado ou deixado em algum lugar especial, até que se desmanchem as partes moles subsistindo apenas os ossos, os quais são então enterrados definitivamente seguindo ritos próprios à cada cultura).
No sítio a Toca do Gongo I foram descobertos 9 sepultamentos (4 em urnas funerárias e 5 enterramentos em fossas na terra). Os sepultamentos em urnas eran secundários e fechados com tampas feitas de vasilhas de cerâmica ou cabaças colocadas diretamente sobre o crânio. Os sepultamentos em terra eram também variados e foram achados com os corpos separados das cabeças, mesmo estando os esqueletos em conexão anatômica.
Novos dados sobre as formas de sepultamento desses grupos foram revelados em recentes descobertas dos sítios Cana Brava e Toca da Baixa dos Caboclos. Em Cana Brava, sítio localizado no município de Jurema ao sul do Parque Nacional, encontramos dentro da própria aldeia, cinco sepultamentos, primários, em urnas funerárias, de crianças entre um a cinco anos de idade. Procuramos agora descobrir como e onde esse grupo enterrava os adultos. No abrigo Toca da Baixa dos Caboclos, localizado no município de Gervásio de Oliveira, ao norte do Parque Nacional, os enterramentos eram feitos também em urnas e em fossas escavadas na própria rocha do abrigo. Na primeira urna escavada encontramos uma criança, com cerca de seis meses, com cabelos cortados rente na testa e, próximo ao seu crânio uma haste de madeira quebrada em 3 pedaços, parte do enxoval funerário.
Como podemos observar através dos dados arqueológicos, existe uma riqueza e variedade de informações sobre esses grupos. Novos estudos estão sendo realizados com a finalidade de estabelecer se as diferenças verificadas nos sepultamentos representam diferenças sociais ou diferenças culturais, assim como, a orígem, o modo de subsistência e a tecnologia dos diferentes grupos ceramistas que ocuparam esta região na pré-história e no período do contato com o europeu.
Todos os povos originários da área do Parque Nacional foram exterminados pelos conquistadores brancos e deles, hoje, só nos resta o que a arqueologia consegue descobrir.

Histórias



Parque Nacional Serra da Capivara Essa foto do chalon foi dirada na entrada do museu Homem Americano.
Patrimônio Cultural
Patrimônio Natural

Patrimônio Natural


Patrimônio natural
Fronteira Ecológica
A ecologia é a ciência que se ocupa de entender a natureza. Na busca de entender as complexas relações que regem a harmonia entre seres vivos e o ambiente que elas ocupam, a ecologia se concentra em identificar a função de cada organismo, ou espécie (grupo de organismos que descendem uns dos outros e que em condições naturais não cruzam com organismos de outro grupo), e como o conjunto destes organismos, as populações de espécies diferentes, são modificados e se adaptam aos fatores climáticos, geológicos, químicos e até mesmo às ações do homem.
As “matas brancas” do nordeste do Brasil ou caatingas, como as chamavam os nativos, são formações biogeográficas caracterizadas por plantas xeromórficas (que perdem todas suas folhas na época seca). Ocupa 650.000 km 2 do Nordeste do Brasil, exceto a faixa litorânea, dos quais apenas 0,1 % encontram-se preservados legalmente.
O Parque Nacional Serra da Capivara, encravado na caatinga, é fruto de uma história geológica, climática e biológica complexa. A diversidade da vida presente hoje, só foi possível graças a variabilidade dos relevos e aos múltiplos habitats escavados em milhares de anos pela força das águas.
As condições climáticas, permitiram que a floresta tropical úmida ocupasse até o Piauí há cerca de 60.000 anos. Com a retração das florestas úmidas imposta pelo início do ressecamento, por volta dos 18.000 anos, algumas espécies desapareceram, outras se retrairam com seus ambientes originais, algumas resistiram encravadas em refúgios mais úmidos (os boqueirões ou canyons) e são os testemunhos vivos desta história. As espécies que permaneceram foram, cada uma de sua maneira, animais e plantas, se adaptando aos diversos ambientes da caatinga. Hoje estas espécies são novas espécies, típicas dos novos tempos.
Espécies testemunhos das épocas úmidas podem ser ainda encontradas na região como uma população relictual de jacarés amazônicos da espécie Cayman crocodilus que vive na Fazenda Veneza (nos limites do Parque) e constitui o limite de ocorrência, a sudeste, desta espécie no país. Duas espécies de louro, Ocotea fasciculata e Poutteria reticulata, árvores tipicamente amazônicas ainda estão presentes no Parque.
O contato com o cerrado e seus elementos de flora e fauna estão presentes até hoje. Esta relação mais duradoura entre caatinga e cerrado, permite que espécies de animais, principalmente de grande porte e/ou de maior mobilidade, sejam comuns a estes dois ecossistemas. Contudo, nem de longe a caatinga e o cerrado são iguais. A ocorrência natural do fogo, comum no cerrado, e inexistente na caatinga, a não ser quando provocado pelo homem, e a disponibilidade de água talvez sejam as principais diferenças.
O clima impõe o ritmo biológico no semi-árido e economizar água é essencial para todos. As chuvas são raras, irregulares e as temperaturas altas. Não há rios perenes no Parque. São comuns os longos períodos de estiagem, como a grande seca de 1983, onde a precipitação foi zero por 3 anos. Há porem os anos bons, como 1996 e 1997, quando as chuvas se extenderam de outubro a fim de maio (normal-mente vão de outubro a março), totalizaram mais de 990 mm distribuidos por muitos dias e sobre uma ampla área.
Os “caldeirões” se enchem garantindo suprimento para os próximos anos.
O relevo é determinante nas diferenças locais de precipitação e temperatura. A chapada, a planície e os baixões (declives mais ou menos suaves da chapada para a planície), são mais secos e quentes, próximo aos paredões das serras e no interior dos boqueirões o micro-clima é mais úmido e fresco. A extensão (às vezes maior que 8 km) e a altura (chegando a 200 m) dos paredões proporcionam mais sombra, barram o vento diminuindo a evaporação e condensam as correntes de ar formando as chuvas orográficas.
Como vimos, o arranjo da cobertura vegetal é determinado, principalmente, pela insolação e o tipo de solo. Assim a chapada, a planície e os baixões são cobertos pelas caatingas arbustiva e arbórea que variam de alta, alta densa, baixa aberta, baixa, média densa a baixa densa. No interior dos boqueirões estão as florestas semi-decíduas com árvores altas (até 30 m) e que na sua maioria mantém folhas verdes todo o ano. Entre as mais frondosas, podemos encontrar as gameleiras (Ficus rufa) e os pau d’arco (Tabebuia impetiginosa). Ao redor dos caldeirões e olhos d’água florescem samambaias, avencas, imbaúbas (Cecropia cf. peltata) e gramas. Nos lajedos, extensões de afloramentos rochosos, comuns em todo o Parque, e que acompanham as bordas superiores dos boqueirões, encontram-se as maiores concentrações e variedades de cactáceas e bromeliáceas.
A taxa de endemicidade (espécies típicas) da flora é alta. Das 615 espécies de plantas encontradas na caatinga 72 % são específicas do sudeste do Piauí. Estas plantas, arrumadas como num mosaico, estão expostas ao sol durante quase todo o dia e se fixam em solos basicamente arenosos e/ou rochosos, incapazes de acumular água de modo suficiente. Folhas pequenas, a capacidade de perdê-las totalmente na seca, raizes profundas, a presença de numeroso espinhos, os caules capazes de estocar água em seus tecidos e a presença de inúmeras espécies com tubérculos (raizes ou caules subterrâneos que acumulam substâncias nutritivas) são algumas das adaptações que permitem a sobrevivência destas plantas. O extrato herbáceo é efêmero e só aparece, ainda que mal representado, na época das chuvas. Os cipós (lianas) são abundantes.

Conheça Essa História





Parque Nacional Serra da Capivara
Patrimônio Cultural
Patrimônio Natural


O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no sudeste do Estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. A superfície do Parque l é de 129.140 ha e seu perímetro é de 214 Km. A cidade mais próxima do Parque Nacional é Cel. José Dias, sendo a cidade de São Raimundo Nonato o maior centro urbano. A distância que o separa da capital do Estado, Teresina, é de 530 Km.
A maneira mais rápida de chegar ao Parque é através de Petrolina, cidade do Estado de Pernambuco, da qual dista 300 Km. A cidade de Petrolina dispõe de um aeroporto onde opera atualmente a Gol, e a BRA, ligando a região com Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A criação do Parque Nacional Serra Capivara teve múltiplas motivações ligadas à preservação de um meio ambiente específico e de um dos mais importantes patrimônios culturais pré-históricos. As características que mais pesaram na decisão da criação do Parque Nacional são de natureza diversa:
- culturais - na unidade acha-se uma densa concentração de sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras rupestres, nos quais se encontram vestígios extremamente antigos da presença do homem (100.000 anos antes do presente). Atualmente estão cadastrados 912 sítios, entre os quais, 657 apresentam pinturas rupestres, sendo os outros sítios ao ar livre (acampamentos ou aldeias) de caçadores-coletores, são aldeias de ceramistas-agricultores, são ocupações em grutas ou abrigos, sítios funerários e, sítios arqueo-paleontológicos; - ambientais - área semi-árida, fronteiriça entre duas grandes formações geológicas - a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco - com paisagens variadas nas serras, vales e planície, com vegetação de caatinga ( o Parque Nacional Serra da Capivara é o único Parque Nacional situado no domínio morfoclimático das caatingas), a unidade abriga fauna e flora específicas e pouco estudadas. Trata-se, pois, de uma das últimas áreas do semi-árido possuidoras de importante diversidade biológica;- turísticas - com paisagens de uma beleza natural surpreendente, com pontos de observação privilegiados. Esta área possui importante potencial para o desenvolvimento de um turismo cultural e ecológico, constituindo uma alternativa de desenvolvimento para a região. Em 1991 a UNESCO, pelo seu valor cultural, inscreveu o Parque Nacional na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Em 2002 foi oficializado o pedido para que o mesmo seja declarado Patrimônio Natural da Humanidade.O Parque Nacional Serra da Capivara é subordinado à Diretoria de Ecossistemas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), tendo sido concluída a sua demarcação em 1990. Em torno do Parque foi criada uma Área de Preservação Permanente de dez quilômetros que constitui um cinto de proteção suplementar e na qual seria necessário desenvolver uma ação de extensão. Em 1994 a FUMDHAM assinou um convênio de co-gestão com o IBAMA em 2002 um contrato de parceria com a mesma instituição. Depois de criado, o Parque Nacional esteve abandonado durante dez anos por falta de recursos federais. Análises comparativas das fotos de satélite evidenciaram esse fato. Durante este período a Unidade de Conservação foi considerada “terra de ninguém” e como tal, objeto de depredações sistemáticas. A destruição da flora tomou dimensões incalculáveis; caminhões vindos do sul do país desmatavam e levavam, de maneira descontrolada, as espécies nobres. O desmatamento dessas espécies, próprias da caatinga, aumentou depois da criação do Parque, em decorrência da falta de vigilância. A caça comercial se transformou numa prática popular com conseqüências nefastas para as populações animais que começaram a diminuir de forma alarmante. Algumas espécies, como os veados, emas e tamanduás praticamente desapareceram. Estes fatos tiveram conseqüências negativas na preservação do patrimônio cultural. A falta de predadores naturais provocou um crescimento descontrolado de algumas espécies, como cupim ou vespas cujos ninhos e galerias destroem as pinturas.As causas desta situação são em parte externas à região, mas também decorrem da participação da população que vive em torno do Parque. São comunidades muito pobres, algumas das quais exploravam roças no interior dos limites atuais do Parque. Estas populações dificilmente compreendem a necessidade de proteger espécies animais e vegetais uma vez que os seres humanos apenas logram sobreviver. Assim, a população local depredava as comunidades biológicas e o patrimônio cultural do Parque Nacional e áreas circunvizinhas, pela caça, desmatamento, destruição de colméias silvestres e a exploração do calcário de afloramentos, ricos em sítios arqueológicos e paleontológicos.

Aula de campo







patrimonio cultural no parque nacional serra da capivara no Piauí-brasil